De Bactéria a Aurífera: A Surpreendente Aventura das Pepitas Microscópicas
Embora possa não ser a protagonista de um conto de fadas como a galinha dos ovos de ouro, existe uma bactéria capaz de absorver compostos carregados de metais tóxicos e extrair ouro deles, formando minúsculas pepitas de ouro.
Essa bactéria, conhecida como Cupriavidus metallidurans, habita solos ricos em elementos tóxicos. Num artigo de 2018 na revista Metallomics, cientistas de diferentes países descreveram os processos moleculares que permitem a essa bactéria realizar o depósito biológico de ouro.
A chave para isso está na maneira como ela lida com o cobre e o ouro presentes no solo. Ambos, em grandes quantidades, são venenosos. No entanto, a bactéria evoluiu para necessitar do cobre para a sua sobrevivência.
O solo onde a Cupriavidus metallidurans reside é rico em metais pesados tóxicos, que a bactéria consegue converter em formas mais maneáveis. Quando há um excesso de cobre no ambiente, a bactéria pode ativar uma enzima especial chamada CupA. Essa enzima bombeia o excesso de cobre, mantendo a saúde da bactéria.
Contudo, algo intrigante acontece quando há ouro na equação. Devido à extrema toxicidade dos compostos de cobre e ouro, a bactéria precisa se proteger. Nesse caso, a enzima CupA permanece inativa, e outra enzima chamada CopA é acionada. Essa mudança transforma os compostos de cobre e ouro em formas difíceis de serem absorvidas.
Segundo o Professor Dietrich H. Nies, microbiologista da Universidade Martin Luther Halle-Wittenberg e autor sénior do estudo, “Além dos metais pesados tóxicos, as condições de vida nesses solos não são maus. Há hidrogênio suficiente para conservar energia e quase nenhuma competição. Se um organismo decidir sobreviver aqui, terá de encontrar uma forma de se proteger destas substâncias tóxicas”.
Essa adaptação permite que menos compostos de cobre e ouro entrem nas células da bactéria. Com isso, a bactéria fica menos prejudicada, e a enzima que elimina o excesso de cobre pode operar sem obstáculos. Como consequência, os compostos de ouro, que antes eram difíceis de absorver, se transformam na superfície celular em pequenas pepitas de ouro inofensivas, com apenas alguns nanómetros de diâmetro.